14.10.08

Eu me amo e não negocio

O que é o amor? Sabe-se lá. Depende de como você é interpretado pelo seu mundo ou como você o interpreta. E haja mundo(s)! – para tantos e outros e nós todos. Para se ter e ter. E quem é o rei? Quem se ama (óbvio!). Bem-vindo, novamente, ao (des)amor nosso de cada dia.

Jesus propôs a palavra e o significado do verdadeiro amor ao se utilizar da expressão: “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.39). Entendamos aqui que a condição para amarmos ao próximo é amarmos, antes, a nós mesmos: “(...) como a ti mesmo”. E isso é inegociável.

Diante disso podemos pensar que o amor-próprio é chave e é lança. Nunca o paradoxo, mas um e pronto. È lança contra o próprio peito se for decisão egoísta. O tipo de “amor” mundano-moderno é suicidógeno porque busca prioritariamente a sobrevivência dos desejos do indivíduo em detrimento do resto, e haja restos, mas, como consequência, produz, aos pedaços, a morte do amante. Por outro lado, o Nazareno propõe o amor como chave. Este seria o amor agapizado. Ágape é um termo grego que deve ser entendido como um ato de decisão solidária, um gesto de auto-doação pleno vinculado não meramente às emoções, mas associado à mente e a vontade. E, de acordo com o texto que citamos, esse ágape cristão inclui o amor-próprio. Este tem o poder de nos desvendar. Destranca-nos e protege-nos contra as imperfeições da existência. Ilumina-nos com a pureza graciosa de Deus.

Esta dimensão do ágape difere qualitativamente dos amores sociais e filosóficos de todas as épocas. Estes são amores condicionados por serem construídos pelo humano. Como é o caso, pra citarmos apenas um exemplo, do amor cortês. O ágape, por sua vez, pode ser discernido pelo critério da vida. Ele sempre gera a vida; produz rebentos no deserto da alma. E onde reside a vida não há brecha para a morada de pseudo-amores capitalistas, consumidores de muitos em serviço de alguns. Ah, quero aproveitar o assunto e sugerir um adendo à reforma ortográfica da língua portuguesa: que “amor” e “vida” sejam uma palavra só; pras gentes não se esquecerem que uma nasceu grudada na outra.

Só me resta fazer uma opção dramática: me decidi por mim. Eu me amo e não negocio. Eu me ágape. Assim, vou ler menos o que me impõem e mais o que quero. Desligar a TV mais vezes. Abraçar aos pares. Sonhar sem reservas e esperas. Beijar de surpresa. Aprender outras línguas; falar na gíria. Construir amizades e perder mais dinheiro. Orar sem pressa. Dormir mais. Perdoar e perdoar. Dançar sem timidez e florir meus amores. Enfrentar as dores. E olhar o mundo. Poetizar sorrisos e lágrimas. Estar tão longe e tão perto. Tão lá e tão aqui. E desenhar na areia e me cobrir com ela. Que seja isso tudo! Que não seja tão tarde o amar abençoado! Já que sempre e sempre haverá tempos, ainda que o tempo não nos compreenda.

09/10/2008

Visitas no Vale

Ecoando no Mundo