6.12.07

O Reitor e o Maltrapilho

Torna-te o que tu és.

Eis aqui a história do reitor da maior universidade do mundo. Ele está acima de qualquer suspeita por ser o mais conceituado, sábio, justo, irrepreensível e amoroso reitor de todos os tempos. É conhecido como um mestre por excelência – sua metodologia pedagógica é regeneradora e metamórfica. É conhecida por transformar indivíduos anônimos em pessoas conhecidas, maltrapilhos ambulantes em doutores do saber e da vida. Ele é o reitor da Universidade da Vida.

Essa universidade é muito concorrida. Todos querem matricular-se para viver nela. Muitos estudiosos tentam entrar por meio de todo tipo de esforço próprio. Fazem grupos de estudos rigorosos, são disciplinados, inteligentes, dominam o saber, buscam conhecimento o tempo todo. Mas sempre são reprovados no vestibular. Nunca conseguem entrar. A cada reprovação uma decepção, um mistério a ser desvendado e um grito de injustiça é engolido seco pelos nerds reprovados. Assim, ninguém consegue por si mesmo passar na Universidade da Vida para estudar aos pés do reitor, mestre da vida. Mesmo que passem a vida toda estudando.

Mas um dia aconteceu algo absurdo, sem lógica. O amoroso reitor se revela: Sai de sua sala à procura de novos alunos. Para o espanto de todos, passa a andar no meio de pobres, mendigos, analfabetos, marginais, ignorantes e loucos, a fim de matriculá-los na sua universidade.

Ao sair de sua sala, o mestre dos mestres encontra um cenário de ignorância intelectual, violência lingüística, analfabetismo moral e pobreza de espírito. Sua compaixão se manifesta enquanto vê e toca em pessoas alienadas do saber. E decide matricular todos os loucos e analfabetos em sua universidade, por amor de seu nome. Mas, a partir dessa decisão, surge um dilema: Somente poderia entrar na Universidade da Vida quem passou no seu vestibular. E isto é justo. É justiça. E agora, como fazer justiça?

O reitor então chama seu único filho e o desafia a estudar muito, no lugar de todos aqueles pobres de espírito. Seu filho, voluntariamente, começa sua jornada de estudos diários durante 33 longos anos de muito sofrimento mental e renúncia, solucionando problemas complicados e quase delirando nos labirintos do saber.

Até que chega o grande dia do vestibular. A concorrência é grande. Muitos chegam animados ao local da prova. Dentre a concorrência existem nerds, PhD’s e uma forte torcida contra o filho do reitor. Todos eles com inveja, reclamando seus direitos perante suposta injustiça.

O cartão de inscrição do vestibular do filho do reitor indica o prédio Calvário e a carteira com o formato de cruz como sendo o lugar para fazer tão terrível prova. Após longas horas de sofrimento mental, emocional e espiritual, conclui a prova, mas seu corpo se esgota, ultrapassando seus limites. Três dias depois, sai a lista dos aprovados. Todos correm ansiosos pra ver o resultado. Mas, para o espanto de todos, o único que foi aprovado com nota máxima foi o filho do reitor.

Após a aprovação de seu filho, o reitor vai ao encontro dos analfabetos e ignorantes. De uma maneira especial encontra um maltrapilho sujo, imoral, com sérias debilidades mentais, analfabeto e entrega o diploma de doutorado da Universidade da Vida. Esse maltrapilho, sem entender nada, olha pra si mesmo e diz que não merece tal diploma porque não estudou nada e nunca teria condições de passar nesse vestibular. O reitor, com um olhar de amor e justiça, diz que esse diploma foi conquistado pelo seu único filho quando foi aprovado no calvário, em seu lugar. Diz que este diploma é do seu filho, mas que está sendo entregue a todos aqueles que reconhecem que nunca poderão passar no vestibular por si mesmos. O reitor diz: “Agora, maltrapilho, torna-te o que tu és: um doutor. Você tem a vida toda para tornar-se o doutor que você já é.” Então, com os olhos cheios de lágrimas e com o coração constrangido, aquele maltrapilho, confiando no filho do reitor recebe o diploma e responde ao convite para matricular-se na Universidade da Vida.

A partir daí, o reitor e o maltrapilho começam a andar juntos e acontece a grande transformação. As aulas transformam o maltrapilho num ser humano digno e decente, com sede do conhecimento e amor pelo reitor. Enquanto passa a vida aprendendo, aquele homem maltrapilho sempre se lembra de que sua identidade foi marcada pelo reitor. Em resposta a essa bolsa de estudo e ao diploma recebido, o maltrapilho se dedica ao máximo para tornar-se o que já é: um doutor.

Assim é o evangelho da graça de Deus. O diploma da salvação é conquistado unicamente por Jesus no vestibular da cruz. É dado imerecidamente para os maltrapilhos analfabetos e recebido com fé para transformá-los a cada dia no que já são: PhD salvos e santos. Receba a graça da salvação e durante toda a tua vida, torna-te o que tu és.

JAIRO FILHO, O Dr. MALTRAPILHO.

3 comentários:

Marcos Botelho do JV disse...

Muito bom texto jairinho!
pensei no começo que era uma contextualização da parábola do grande banquete (e na verdade eh). Mas entendi que vc quis ir mais longe.
O que me tras a mente é que no fundo, um iletrado nunca conseguira ser um doutor da melhor universidade do mundo. E que mesmo assim ele não vai parar de tentar ser, porque na verdade ele ja é, só tem que refletir o que foi dado!

Calebe Ribeiro disse...

texto maravilhoso cara. vc escreve semelhante ao max lucado. O processo da salvação e restauração do homem é semelhante a um processo educacional de uma instituição de ensino. Passo a passo, lição por lição, somos conduzidos a nossa formação. Engraçado é que quanto mais se estuda mais se percebe que ainda existe um longo caminho a ser trilhado. Semelhantemente quanto mais próximos de Deus mais percebemos a nossa incapacidade de estar próximo a ELe.

Talvez a diferença maior entre o processo educacional e o processo de salvação exposto no texto seja o quesito reprovação. Ou não?

Gustavo da Hora disse...

Excelente narrativa, Jairo!

Trata-se de uma parábola muito apropriada pra expressar a graça de Deus em Jesus que nos insere na Universidade da Vida! Ao mesmo tempo, nos motiva a nos tornarmos o que já somos em Cristo: Semelhantes ao Humilde Doutor!

Que a concretude poética das narrativas do nosso Humilde Mestre-Doutor aos cuidados do seu Santo e poético Espírito nos conduzam cada vez mais no relacionamento com ele e com aqueles a quem ele ama. Que assim prossigamos em nos tornarmos à sua imagem, conforme a sua semelhança em amor, somente pela graça e relacionamento com ele!

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